No próximo dia 3 de dezembro, às 19 horas, será inaugurada na Biblioteca da Floresta Marina Silva, a exposição que apresenta ao público os resultados do projeto “Linha do Tucum, Artesanato Amazônico”, realizado pelo Instituto de Estudos da Cultura Amazônica - IECAM e patrocinado pela Petrobras / MinC, que está sendo desenvolvido no coração da floresta amazônica, fronteira entre o Acre e o Amazonas no Médio Juruá, região considerada de megadiversidade biológica, conforme Relatório da Biodiversidade Brasileira.
O projeto buscou favorecer o desenvolvimento socioeconômico de comunidades do Vale do Juruá, através da valorização do conhecimento tradicional de fiação da fibra da palmeira Tucum (Astrocaryum chambira), e da capacitação de artesãos locais na confecção de produtos artesanais, utilizando como matéria-prima sementes, fibras e outros recursos florestais não-madeireiros.
A comunidade Vila Céu do Juruá, é formada por ex-seringueiros, ribeirinhos e agricultores e está ligada por laços culturais a outras quatro comunidades, totalizando 350 pessoas. Localiza-se, no seringal Adélia, a um dia e meio de barco do município amazonense de Ipixuna, e a três dias de barco de Cruzeiro do Sul no Acre, ocupando uma área de cerca de três mil hectares, recoberta pela Floresta Pluvial Amazônica, sendo uma região riquíssima em ambientes distintos, com três grandes lagos e inúmeros igarapés.
No universo simbólico de diversas comunidades amazônicas, a linha do Tucum é considerada a “Linha da Lealdade”, pois tem grande resistência e nunca se rompe. A arte de fiação da fibra dessa palmeira constitui-se numa técnica ancestral herdada dos povos indígenas, entre eles os kulina e os katukina, do Vale do Juruá.
Até meados da década de 1950, a linha do Tucum era o único recurso que se dispunha na floresta para a fabricação da linha artesanal, utilizada na confecção de redes de dormir, linhas de pesca, malhadeiras (tarrafas), cordas, roupas e utensílios. A linha do Tucum e todos os produtos confeccionados a partir dela são naturalmente biodegradáveis, não representando riscos para o ciclo da vida nas florestas.
Com a chegada do nylon essa cultura foi sendo esquecida assim como outros saberes e fazeres tradicionais ligados à sobrevivência das populações da floresta. Se por um lado a produção industrial trouxe praticidade, por outro ela tem sido responsável pelo fim de técnicas seculares, tradições e formas de organização do trabalho, das quais, o conhecimento tradicional associado ao uso da linha do Tucum constitui um exemplo emblemático.
A valorização desse conhecimento e de outros saberes e fazeres a ele associados, como o manejo florestal e o beneficiamento de sementes, fibras e outros produtos florestais não madeireiros, é sem dúvida uma das melhores maneiras de se manter a floresta em pé, aliando o uso à conservação, contribuindo para a construção de um modelo sustentável de ocupação dos ambientes amazônicos.
A exposição Linha do Tucum: artesanato da Amazônia, organizada pela Biblioteca da Floresta Marina Silva, certamente surpreenderá como importante empreendimento de sistematização e valorização de técnicas consideradas já em desaparecimento e que passarão a ter um valor extraordinário nos próximos anos.
A exposição permanecerá durante todo o mês de dezembro, onde serão apresentados os produtos artesanais da comunidade. Estão previstos também o lançamento do livro “Viagens ao Juruá”, do líder comunitário Alfredo Gregório, e a apresentação de um DVD que registra os trabalhos realizados durante o projeto. O público terá a oportunidade de conhecer melhor os costumes dos povos da floresta, as espécies utilizadas no artesanato da região e seus múltiplos usos.