Projeto Ar, Água e Terra, realizado pela organização sem fins lucrativos IECAM visa a segurança alimentar, a cobertura vegetal e a gestão sustentável dos territórios indígenas nos biomas Pampa e Mata Atlântica
Abrangendo uma área de mais de três mil hectares nos biomas Pampa e Mata Atlântica, em dez aldeias Guarani situadas em dez municípios do Rio Grande do Sul (RS), o Instituto de Estudos Culturais e Ambientais (IECAM) retomou, em janeiro de 2024, o Projeto Ar, Água e Terra, que conta com o patrocínio da Petrobras, através do Programa Petrobras Socioambiental.
O Instituto realiza atividades socioambientais com a etnia Guarani desde a década de 90 e desde 2012 desenvolve o Projeto, com uma metodologia de construção participativa entre equipes indígenas e não indígenas, atuação interdisciplinar e intercultural e troca de saberes, práticas e técnicas, com o protagonismo dos Guarani que apresentam suas demandas e propõem soluções.
O trabalho já alcança resultados de reconversão produtiva e recuperação ambiental nos biomas, além da redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) geradas nas ações do projeto. Entre os principais resultados até o momento, destacam-se cinco mapas de cobertura da terra e etnomapas das Terras Indígenas (TI); cinco hectares de áreas reconvertidas; dez hectares de áreas recuperadas/restauradas; três mil hectares de áreas conservadas nas Terras Indígenas; 30 mil mudas plantadas; e mais de 150 atividades de educação etnoambiental. As ações são cuidadosamente planejadas considerando as necessidades culturais e características ambientais de cada aldeia, focando na segurança alimentar, cobertura vegetal e na gestão sustentável dos territórios indígenas.
A nação Guarani faz parte do grupo étnico Tupi e se divide nos subgrupos Xiripa, Mbya e Kaiowa. Cerca de 220 mil índios guarani permanecem vivendo ainda hoje na Bolívia, Paraguai, Argentina e Brasil - onde a população Guarani alcança cerca de 50 mil índios. A população que se autodeclara indígena no Brasil segundo o IBGE (2022) alcança aproximadamente 1,69 milhões de indígenas, população que cresce, considerando ser 88,8% maior que a registrada em 2010; 36.096 indígenas vivem no Rio Grande do Sul. Atualmente, os Guarani constituem a maioria da população indígena do litoral sul e sudeste do País, vivendo em cerca de cem aldeias situadas junto a Mata Atlântica, no Mato Grosso, Amazônia e entre os estados do Rio Grande do Sul e Espírito Santo.
No RS, a situação fundiária é de 48 TI, sendo 21 da etnia Guarani (FUNAI, 2019). O Projeto Ar, Água e Terra envolve dez aldeias localizadas nas regiões metropolitana de Porto Alegre, central e litoral norte, médio e sul do estado.
O histórico dessa etnia revela modos de vida tradicionalmente integrados aos ecossistemas florestais, através de um manejo sustentável que permite a coleta de alimentos, medicamentos, espécies para uso em cerimônias e para a construção das casas, confecção de utensílios, artesanato, instrumentos e adornos, respeitando a capacidade de suporte dos ambientes e a troca de saberes e experiências com parceiros dispostos a recuperar e conservar a biodiversidade.
Mais de 300 indígenas estão envolvidos diretamente no trabalho; mulheres, homens e crianças Guarani participam do Projeto seguindo a organização da comunidade, que realiza as atividades conforme os dons e aptidões de cada indivíduo. Além do resgate e revitalização de saberes e práticas tradicionais Guarani, o trabalho contempla o viveirismo, a recuperação de áreas degradadas, a melhoria da fertilidade do solo, a produção de alimentos em roças tradicionais, e o uso de técnicas agroecológicas como a adubação verde[1] e os quintais agroflorestais, além do intercâmbio de sementes e mudas de uso tradicional indígena, para contribuir para a segurança alimentar e a autonomia das aldeias.
Os resultados já obtidos contribuem para a preservação da biodiversidade no território gaúcho e na luta mundial urgente contra o aquecimento global.
RESULTADOS ALCANÇADOS ATÉ O INÍCIO DA 4ª FASE DO PROJETO AR, ÁGUA E TERRA
- Conservação de mais de três mil hectares nos biomas Pampa e Mata Atlântica;
- Cultivo de mais de 20 mil mudas nos viveiros/estufas;
- Plantio de mais 30 mil mudas de 100 espécies nativas da região sul do Brasil;
- Reconversão produtiva de cinco hectares;
- Recuperação de dez hectares de áreas degradadas;
- Redução da emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) de 7.665,8 tCO2-e com/nas TI;
- Mais de 150 atividades, como oficinas de educação etnoambiental, reuniões, encontros etc.;
- Cadastro de participantes indígenas com a sistematização de dados;
- Etnomapeamento e mapeamento dos territórios indígenas;
- Construção de dois viveiros/estufas e um quiosque para a exposição e venda de artesanato Guarani.
PROPOSTAS PARA A NOVA FASE DO PROJETO AR, ÁGUA E TERRA
O trabalho do IECAM contemplará atividades como rodas de conversa, reuniões, encontros, trilhas e oficinas envolvendo temáticas como revitalização de saberes e práticas ecológicas tradicionais, Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), compostagem e reciclagem de resíduos, direitos indígenas e das mulheres, agroecologia, gestão sustentável dos territórios, soluções baseadas na natureza (SbN) e etnodesenvolvimento. O projeto possibilitará benfeitorias no Yvirendá/ Poarendá (casa das plantas) viveiro/estufa das aldeias de Porto Alegre e Palmares do Sul e em dois Ajaka Ro (casa do artesanato/quiosque) das aldeias de Osório e Torres, no norte do RS. De forma pioneira, inspirados em SbN e ecoeficiência, serão avaliados e realizados com as comunidades a instalação de um gerador de energia solar e de energia eólica em duas aldeias participantes, para contribuir, de forma pioneira, com a geração de energia com fontes renováveis em duas aldeias Guarani do RS.
Aldeias e regiões do RS que participam da 4ª fase do Projeto Ar, Água e Terra
MUNICÍPIO (S) |
COMUNIDADES/ALDEIAS DIRETAMENTE ABRANGIDAS |
Caraá |
Teko’a Ka’aguy Pau (Aldeia Vale das Matas)
Teko’a Nhuu Porã (Aldeia Campo Bonito/Molhado)
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Maquiné |
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Riozinho |
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Osório |
Teko’a Kuaray Resé (Aldeia Sol Nascente) |
Palmares do Sul |
Teko’a Yriapu (Aldeia Som do Mar) |
Porto Alegre |
Teko’a Anhetenguá (Aldeia da Verdade) |
Rio Grande |
Teko’a Pará Rokê (Aldeia Porta do Mar) |
Santa Maria |
Teko’a Guaviraty Porã (Aldeia da Guabiroba Boa) |
Torres |
Teko’a Nhuu Porã (Aldeia Campo Bonito) |
Viamão |
Teko’a Nhuundy (Aldeia do Campo Aberto/ Capinzal)
Teko’a Pindo Miri (Aldeia Coqueirinho/dos Coqueiros) |
SOBRE O PROJETO AR, ÁGUA E TERRA - Em 2010, através de seleção pública, o Projeto foi aprovado e iniciou, em 2012, as atividades. O projeto é patrocinado pela Petrobras, através do Programa Petrobras Socioambiental. Com a abordagem etnoambiental como eixo central, o projeto contempla uma série de necessidades do povo Guarani, como a segurança alimentar e a restauração florestal com espécies nativas de uso tradicional indígena. Para a realização das atividades, utiliza uma metodologia de construção participativa, proporcionando a troca intercultural de saberes, práticas, técnicas e ideias, sendo os indígenas protagonistas e coexecutores, apresentando suas demandas e propondo soluções, atividades e métodos. Em janeiro de 2024 foram retomadas as atividades, inaugurando a 4ª fase do Projeto em dez aldeias Guarani, localizadas em dez municípios do RS.
[1] Técnica de melhoramento do solo através da introdução de plantas com grande potencial de produção de biomassa vegetal, que cobrem o solo rapidamente, proporcionando um acúmulo de matéria orgânica, com enriquecimento de nutrientes e aumento da fertilidade. Além disso, oferecem sombra e ajudam na conservação da umidade, descompactação e proteção contra a erosão.