A crise humanitária vivida pelos povos indígenas no RS em decorrência da catástrofe climática foi emergencialmente mitigada pela assistência prestada por entidades da sociedade civil, indígenas e atores governamentais.
Em 10 dias mais de 20 representantes atenderam cerca de 1.300 famílias indígenas de 67 aldeias localizadas em 35 municípios gaúchos.
A falta de atuação dos governos perante essa minoria historicamente desassistida gerou a Carta Pública da Articulação Indigenista no RS que começa a ser encaminhada aos governos municipais, estadual e federal.
Você pode contribuir fazendo circular a Carta e também pela doação direta ao Conselho de Articulação do Povo Guarani (CAPG).
PIX pelo CNPJ do CAPG - 24614826000109 - Banco do Brasil
Leia o documento na íntegra:
CARTA PÚBLICA
-Articulação indigenista no RS-
Maio de 2024
Essa carta é direcionada a toda sociedade do Rio Grande do Sul, do Brasil e também à comunidade internacional, mas especialmente às instituições e órgãos públicos das esferas federal, estadual e municipal buscando oferecer-lhes um contexto fidedigno, bem fundamentado e atual da situação indígena do estado frente à calamidade climática que estamos enfrentando. Nosso objetivo é informar, salientando o papel da sociedade civil organizada no atendimento emergencial aos afetados, e, principalmente, reivindicar por uma maior atuação e comprometimento dos governos, por meio de seus braços operacionais, a ampliar urgentemente o suporte aos territórios e estabelecer aqui um núcleo multiinstitucional de atuação de emergência, reconstrução e consolidação de assistência às famílias indígenas.
Constituímos de forma célere uma articulação plurinstitucional entre organizações da sociedade civil indigenistas, indígenas e atores governamentais, com o objetivo de, em curto prazo, reunir e sistematizar informações sobre os territórios indígenas afetados pelas enchentes. De forma concomitante promovemos ações coordenadas que asseguraram a arrecadação e o envio de mantimentos a todas as famílias indígenas das regiões afetadas ao alcance deste coletivo.
Em 10 dias, foram atendidas por estas ações 67 aldeias de 35 municípios, abrangendo mais de 1.300 famílias das etnias Mbya Guarani, Kaingang, Xokleng e Charrua. Estas ações foram imprescindíveis para a mitigação dos efeitos dessa catástrofe climática sobre as comunidades indígenas, sobretudo nos aspectos de segurança alimentar e hídrica, saúde e conforto térmico, com a entrega de cestas básicas, água potável, kits de limpeza e higiene, roupas, cobertores, colchões, lonas e ração animal.
Nossa articulação envolve 17 entidades da sociedade civil e servidores públicos de órgãos governamentais. No entanto, os recursos humanos, financeiros, materiais e a abrangência geográfica são limitados frente ao resultado que se necessita, qual seja, assegurar o amparo emergencial para todas as comunidades indígenas do estado enquanto os efeitos da calamidade persistirem.
Embora o trabalho tenha alcançado resultados notáveis, é evidente, até este momento, a ausência de um processo ágil de coordenação e resposta a emergências climáticas por parte das autoridades públicas competentes. Em que pese este coletivo conte com servidores engajados e empenhados em sua missão pública diante de uma catástrofe sem precedentes, há uma lacuna na formulação e implementação de uma política pública indigenista que coordene, aglutine e intersetorialize os diversos compromissos legais que cabem ao poder público. Sem esse eixo central, nos parece improvável garantir a continuidade da atuação coletiva voluntária, num horizonte em que os impactos negativos vão se desdobrar por anos - ou mesmo serão perenes, dado o cenário de mudanças do clima.
Quando as águas começarem a baixar e a solidariedade que move as ações de apoio não for suficiente para atender todas as demandas, é imprescindível que o poder público tenha ocupado seu devido lugar, assumindo suas obrigações. Se faz necessário, então, que as demandas emergenciais das aldeias passem a ser tratadas como parte das políticas assistenciais e de gestão ambiental e territorial, visando atender a todos os territórios, com recursos financeiros, estrutura física e de pessoal. Sem olvidar que os povos indígenas constituem os maiores agentes de enfrentamento à crise climática global, ao passo em que são os primeiros a sofrerem as piores consequências da devastação ambiental.
A partir deste panorama, solicitamos, como próximos passos no enfrentamento da maior catástrofe climática do RS:
E cada uma e cada um desse grupo, especialmente os das organizações indígenas, que criaram amplas redes de articulações, como a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul) e Conselho de Articulação do Povo Guarani (CAPG) - sem as quais não teríamos êxito nessa empreitada - seguiremos apoiando dentro de nossas potencialidades, capacidades e disponibilidades; cientes, todos nós, de nosso papel e lugar nesse contexto: de agentes intencionados a transformar as realidades de injustiça, insegurança, vulnerabilidade e desigualdade, sempre atentos à garantia dos direitos, respeito e solidariedade, na perspectiva do Bem Viver. Neste momento, este objetivo nos parece difícil e longínquo, mas todos juntos - reunidas, reunidos; unidas e unidos - sentimos e mostramos que pode, sim, haver um outro mundo possível.
Seguimos.
AEPIM, Associação de Estudos e Projetos com Povos Indígenas e Minoritários
Amigas da Terra Br.
AMRIGS, Associação Médica do Rio Grande do Sul
ANMIGA, Articulação Nacional das. mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade
APERGS, Associação dos Procuradores do Estado do Rio Grande do Sul
ARPIN-Sul, Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul
ASIBAMA/RS, Associação dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente e PECMA do Rio Grande do Sul
ASSEMA/RS, Associação dos Servidores da Secretaria de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul
CAPG, Conselho de Articulação do Povo Guarani
CGY, Comissão Guarani Yvyrupa,
CIMI, Conselho Indigenista Missionário
Coletivo Cidade na Luta
Conselheiros e colaboradores do CEPI, Conselho Estadual dos Povos Indígenas do Rio Grande do Sul
CTI, Centro de Trabalho Indigenista
FLD-COMIN-CAPA, Fundação Luterana de Diaconia-Conselho de Missão entre Povos Indígenas-Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia
IECAM, Instituto de Estudos Culturais e Ambientais
Instituto Curicaca
Organização Comunitária No Coração da Agulha
Rede Sul de Restauração Ecológica
Servidoras da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura
Servidores da Secretaria Estadual de Saúde
Tela Indígena